A 08 de Dezembro do presente ano de 2022, a SAMP celebra o seu 149º Aniversário. Contudo, a acta de fundação foi assinada no dia 22 de Agosto de 1873. Porque não é então 4 meses antes, e no dia oficial, que a centenária instituição pousense assinala o seu Aniversário? A resposta é simples: porque a prioridade às pessoas, em detrimento da simples formalidade, existe na SAMP desde a sua origem. A subscrição oficial da Sociedade Philarmónica dos Pouzos nunca poderia ser mais importante do que a alegria dos músicos ao receberem os seus primeiros instrumentos, e o contentamento da aldeia ao vê-los subir dos Andrinos em histórico alvoroço. Isso aconteceu a 08 de Dezembro e por isso nunca foi outro o dia de Aniversário.
Assinaram a acta de fundação, além do Barão de Viamonte, 27 subscritores. Também, aqui, a SAMP revela ser já uma instituição com preocupações sociais porque, destes, 6 assinaram de cruz. Quer isto dizer que foi no quadro de uma cultura cívica própria do liberalismo progressista, que então se vivia nos círculos do fundador da SAMP, onde nasceu uma sociedade para todos, até os analfabetos, e não somente os amigos brasonados do Barão e da elite social leiriense.
O capital de arranque da Sociedade Philarmónica dos Pouzos, na sua fundação em 1873, foi de 281.000 réis. Destes, 119.000 foram assegurados pelo fundador. Contudo, poucos sabem que cada um dos restantes 27 sócios, os músicos, tinham de contribuir anualmente com uma verba de 500 réis. Observa-se, pois, que a SAMP foi desde logo um projecto colaborativo, e constituído a pensar na sua sustentabilidade. Talvez por isso, ao contrário de muitas das suas congéneres nacionais, a SAMP manteve a sua actividade ininterrupta até aos nossos dias, ultrapassando as enormes crises de guerra e emigração que fizeram parar, ou até mesmo acabar, um número significativo de filarmónicas portuguesas.
Um olhar atento sobre a história SAMP revela que foram sempre necessidades sociais que conduziram os seus caminhos. Na origem, foi o trabalho duro do campo de um grupo de servos da terra que levou o seu patrão a oferecer-lhes instrumentos musicais, e a oportunidade de fazer música em conjunto, para aliviar a violência da sua jorna diária. Sem o saberem, nascia na Philarmónica dos Pouzos o seu primeiro projecto de musicoterapia e de práticas artísticas na comunidade. Estávamos no último quartel do século XIX. Mas quando os efeitos da Primeira Grande Guerra se fazem sentir, a SAMP logo chama o Jazz e o integra nas suas formações, onde permanece até hoje, como linguagem artística mais libertadora. Com a fome da II Grande Guerra e a emigração associada, são músicos SAMP que ajudam a criar em França a Filarmónica de Paris, e nos Pousos nascem o Teatro e as Variedades para as mulheres e filhos sem marido e sem pai. É deste grupo de Variedades e da orquestra de jazz Pupilos da SAMP que viria a dar-se a mudança de paradigma da instituição centenária dos Pousos.
No início da década de 90 nasce a Escola de Artes, e, com os bebés, dialogam os projectos para os mais idosos. Com ambos, entra-se no hospital para cuidar o serviço Neonatal e a Pediatria, e rapidamente se alarga à doença mental e ao serviço de dor crónica. Nasce o primeiro Laboratório de Musicoterapia num hospital europeu, e envolvem-se comunidades Roma com as famílias do Berço das Artes. Entretanto, aprofundam-se com parcerias internacionais, os projectos de práticas artísticas participadas, e hoje a SAMP integra na sua bolsa de artistas uma equipa multidisciplinar com sociólogos, museólogos, psicólogos e especialistas em impacto social, alargando a sua intervenção até ao limite da vida humana com o projecto Aqui Contigo. É considerada pelos seus parceiros uma referência internacional como Learning Institution ao serviço da comunidade.
A um ano de celebrar século e meio de história, convidamos todos os habitantes da nossa comunidade a fazerem parte deste percurso centenário, e celebrar connosco a Cultura e a Música ao serviço do desenvolvimento humano. Pode assistir aos muitos eventos que contempla a programação de Aniversário, mas deixamos um convite especial a que faça e não assista, experimente e desfrute do prazer único de criar e fazer música. Venha tocar na nossa Banda Filarmónica, venha cantar no nosso Coro se quer descobrir ou valorizar mais a sua voz, venha com os seus filhos ou os seus pais para a Escola de Artes e aprenda a tocar um instrumento. Pode até optar por ser voluntário num dos muitos projectos sociais que desenvolvemos, mas invista no melhor de si e dos seus e deixe-se inundar pelo prazer de fazer música com quem vive apaixonado pela arte e pelo encontro.
Paulo Lameiro