A 22 de agosto de 2022, a SAMP celebra 149 anos de História em comunidade
Neste 149º Aniversário, regressamos às nossas origens para partilhar com toda a comunidade algumas das histórias e curiosidades da Banda Filarmónica SAMP!
Fundada a 22 de agosto de 1873 por um grupo de Pousenses liderado pelo Barão de Viamonte e com atividade ininterrupta desde a sua origem, a Sociedade Artística Musical dos Pousos tem sido pioneira na vida cultural da região de Leiria. Desde o ventre das mamãs, ao Som como Último Colo, a SAMP leva Música, Arte e Amizade a toda a comunidade.
Sinónimo de história, pessoas e música, a Banda Filarmónica SAMP está na origem da instituição e assume-se como garante do crescimento e sustentabilidade da mesma. Foi no dia 08 de dezembro de 1873 que os primeiros sócios músicos da Philarmónica dos Pouzos receberam os primeiros instrumentos musicais. Com eles, subiram dos Andrinos até aos Pousos pela rua que tem hoje o nome do fundador da SAMP, com tal alarido e contentamento, que passou a ser o dia 08 de dezembro a data em que se celebra o nosso Aniversário. Desde aí, a Banda Filarmónica nunca mais parou, tornando-se num grande pilar e a base da criação da SAMP e das outras Formações Residentes criadas posteriormente. Nestes 149 anos de vida, a nossa Banda carrega na sua história incontáveis momentos que ficaram marcados nesta longa caminhada, que ajudaram a elevar o nome da SAMP até aos dias de hoje, procurando a inovação, mas mantendo sempre viva a tradição. Para celebrar mais um ano de vida, partilhamos duas histórias presentes no Livro SAMP sobre esta Formação Residente que está na origem histórica da nossa instituição!
A FARDA ERA O SONHO
“Receber a primeira farda era o sonho de qualquer aprendiz”, conta Paulo Lameiro. “Mais do que o instrumento, a farda era o verdadeiro comprovativo de se pertencer ao grupo”. O instrumento, por sua vez, não era uma escolha do aprendiz, mas sim uma necessidade do Mestre em reforçar um naipe mais frágil de músicos, e do Contramestre em função dos instrumentos disponíveis. E foi assim, através deste princípio filarmónico, que ficou definido que não se ia aprender música porque se gostava de tocar determinado instrumento, mas sim aprender música para se pertencer a um grupo e integrar um projeto coletivo.
Um dos muitos aprendizes da nossa Banda, conta-nos o Professor Paulo, tinha o sonho de tocar Saxofone, mas na verdade iniciou o seu percurso com um Fliscorne. Apesar da estranheza do nome, quando chegou o momento de receber o seu instrumento, estava muito orgulhoso e animado, e após recebê-lo, só queria chegar a casa para mostrar aos pais o novo instrumento e poder tocá-lo livremente. Porém, antes disso, decidiu que deveria lavar o instrumento, e assim o fez! Ainda que não tenha ficado a brilhar como os outros que via nas mãos dos músicos mais velhos, ao menos o pó e algumas manchas desapareceram. Chegado o tão esperado momento de tocar o seu Fliscorne, o nosso aprendiz ficou em pânico, pois o instrumento soava pior do que alguma vez tinha imaginado. Como iria ele explicar ao Mestre que o Fliscorne não tocava? Será que não se podia lavar o instrumento? De facto, quando chegou para ter a sua primeira lição de instrumento, não a teve, é que afinal não deveria mesmo ter lavado o instrumento, pois ele estava roto em dois dos tubos, e era a camada espessa de sujidade que tapava os buracos! A solução? Essa chegou de seguida, pois o Mestre, para além de filarmónico experiente, era trompetista e conhecia muitos truques para resolver estas situações. “Olha lá ó rapaz, não voltas a fazer isto, hã?! Vais para casa e botas um bocado de sabão nos buracos”, disse o Mestre ao aprendiz, que assim o fez. Mais tarde, ficaria um Trompete vago com a saída de um músico, que foi herdado pelo nosso aprendiz, com o qual tocou durante alguns anos.
Mas vestir a farda com um boné era o sonho! Porém, isso só acontecia quando Mestre e Contramestre se entendiam sobre quem estava apto ou era necessário que saísse a tocar. E lá chegava o dia em que era marcada a ida ao alfaiate, na altura conhecido como Zé Florêncio, e numa sala cheia de linhas, agulhas, moldes, fitas e rolos de pano da cor da farda, dava-se início às medições das pernas e braços, algo estranho para as crianças, que só ganhava um sabor especial quando a fita do alfaiate dava a volta à cabeça, simbolizando o boné, o adereço indispensável ao poder que a farda simbolizava. As semanas de espera para a entrega da farda pareciam não ter fim para o nosso aprendiz, mas a chegada da festa do Senhor dos Aflitos marcava esse momento inesquecível. “Aqui têm as vossas fardas. A partir de hoje, e sempre que as tiverem vestidas, deixam de ser o Vítor e o Paulo, o Zé e o Mário, e passam a ser músicos dos Pousos”, proferiu o Contramestre no ritual de entrega das fardas, palavras que o nosso aprendiz viria a reproduzir vezes sem conta aos músicos mais novos, e que são repetidas até aos dias de hoje na nossa Banda Filarmónica!
O BUÍÇA E O MALTEZ – Dois caninos guardiães de partituras
“Entre as memórias evocadas pelos filarmónicos mais antigos, conta-se que a banda dos Pousos era conhecida como a banda do cão”. Conta-nos o Ti Antero, antigo músico filarmónico dos Pousos, as histórias do Buíça e do Maltez. Amante de música, o Buíça não saía dos Pousos, e quando nas festas havia foguetes, gostava de agarrar as suas canas, não as deixando subir. Dele, nada mais se sabe, ao contrário do Maltez, conquistado pelo Ti Luís Oliveira Venâncio.
O Maltez era um cão que sempre acompanhava a banda, assistia a todos os ensaios, que enganava o cobrador da camioneta para viajar debaixo dos bancos com os seus músicos e guardava a banda como se de um rebanho de ovelhas se tratasse. Um cão que sabia vir ter aos Pousos desde a sua casa de terras longínquas, que nas procissões e arruadas seguia uns 5 metros à frente da formatura, como se levasse o estandarte, que sabia esperar se a banda parasse e acertava o passo se o andamento da formatura assim o obrigasse. Um cão que ia visitar o Contramestre à sua casa e que deixava o Mestre da banda abandonado à porta da igreja a chamá-lo, porque o Mestre sem farda não fazia parte das suas ovelhas. “Um cão médio, meia perna, corpo forte. Por cima dos olhos uma pelagem de amarelo escuro em círculo pequeno (…). Pelagem pigarço com umas malhas branco sujo, mas pouco”. Uma descrição criteriosa de um dos grandes responsáveis pela integridade do arquivo musical SAMP, pois não fosse o seu zelo por guardar farnéis, instrumentos e a mala das partituras, e hoje podíamos ter o espólio SAMP mais reduzido.
Desse seu cuidado com as obras musicais, partilhamos uma história que reflete o sentido patrimonial que no Maltez estava tão apurado. Numa festa de Gondemaria, o Maltez seguiu, como era habitual, com os filarmónicos. A qualquer hora livre, sendo necessário que os músicos abandonassem o trabalho para comer ou beber, o Maltez deixava a função de “pastor do rebanho de fardados” para assumir o papel de “guarda das partituras e instrumentos”. Mas a pasta das partituras era o tesouro mais precioso, à qual dedicava especiais cuidados. Na noite de regresso a casa, o grupo de filarmónicos dá-se conta que Maltez não os acompanhava. Depois de alguma procura, pensaram que, tal como de outras raras vezes, poderia ter voltado à sua casa mais cedo que o grupo, mas o Ti Luís não o encontrou ao chegar a casa de madrugada. Na manhã seguinte, toca um dos poucos telefones dos Pousos a chamar por alguém da banda. Era da Gondemaria. Parece que os festeiros queriam dar início aos arrumos e limpezas da festa, mas ao chegarem estava um “autêntico leão” que não deixava ninguém entrar. Sem o seu rebanho de fardados, o Maltez agigantava-se para defender o tesouro mais precioso da banda, a pasta com as partituras, que no calor da festa, ficou esquecida por lá. E na pasta das partituras ninguém toca! De imediato, teve de ir dos Pousos o senhor Aquilino num carro buscar a pasta e o Maltez.
Em 149 anos de vida, são muitas as histórias, momentos e experiências vividos pela Banda Filarmónica SAMP, histórias essas que de alguma forma, ajudaram no crescimento e continuidade da nossa Banda até aos dias de hoje. Neste Aniversário, agradecemos a todas as muitas gerações de filarmónicos, direções voluntárias, famílias, professores, colaboradores, alunos, sócios, benfeitores, instituições parceiras e amigos por caminharem ao nosso lado e ajudarem a escrever estes 149 anos de história, mostrando que “mais importante que colocar músicos no palco, é colocar a Música e a Arte na vida das pessoas”.
Parabéns, SAMP!
| Créditos fotográficos de Ricardo Graça |